sábado, 27 de julho de 2013

Ela não me avisa, me empurrou numa rodovia desconhecida, e antes que eu pudesse piscar, fui atingida sem pena, sem aviso. Ou me manti surda aos sons ao meu redor?
Atingida por um monstro abstrato de mil toneladas, é tão pesado e me esmagou tudo. Eu tento olhar pro céu, mas há um plástico nos meus olhos, que deixa tudo artificial, deixa ela artificial, a vida banal como um filme barato, sangrento, doentio e cruel.
Eu quero rabiscar, mas não consigo, ataram-me as mãos nas costas, calaram-me a boca, e eu só consigo murmurar coisas que não repercutem nada.
Quero ver além do plástico, forço minhas retinas nessa translúcida tortura, que empacotou e tirou o ar do meu coração também, e ele não sente, bate, apanha, apanha e bate e viver dói.
Como dói.
Por isso sinto-me automática, eu só ando, e mantenho-me falecida parcialmente pra evitar as deveras dores, meu francês não é mais romântico e sobre inglês não sei mais quase nada. Só mentalizo que estou sick, i’m sick, i’m sick món amour. E também não sei do quê.
A paranoia roeu as minhas cordas, tudo virou doente, enxergo as pessoas doentes. Antes eram tão lindas, meu amor... Tão lindas, assim como seus olhos que de brilhantes, ficaram distantes e por fim opacos, inalcançáveis.
Meu amor... Não sei pra quem endereço minhas palavras, mas quero que elas escapem de mim, quero que elas passem por baixo das minhas frestas, como as cartas amontoadas e não lidas escorregam por debaixo de portas aleatórias. Não quero que elas ricocheteiem e me voltem, isso me gera um congestionamento maior do que o da minha cidade em horário de pico.
Pico de pessoas tão presas quanto eu, mas menos cientes disso, talvez... Ou talvez não.
Eu fumo cigarros baratos, aspirando aquela fumaça densa e forte, e são um, dois, três, até o fim da caixa, tenho a impressão as vezes de que intimamente eu espero morrer no final do último filtro.
Mas a morte não é mais minha amiga, ela quer se fazer demorada e pede sempre mais um prazo.
Volto minha retina nas cores das pessoas através do plástico e sinto as cordas se apertarem nos meus pulsos e as placas me gritam, “não corra”, “não morra”, “não fume”.
E eu corro, eu morro e eu fumo pra ver o que vem no final, pra ver onde é que eu vou bater de cara em um muro, pra ver quando alguém vai passar por mim e tocar fogo nas minhas cordas, e eu vou conseguir escrever um help no muro da minha casa.

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